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EUROPA - Inglaterra - Nortúmbria
Lindisfarne
A Northumbria é a região ao norte do rio Humber (em Yorkshire), daí seu nome. Essa sempre foi uma região muito violenta e era inicialmente dividida em dois reinos. O reino de Deira ficava ao sul do rio Tees (perto de Middlesbrough). A Bernícia ficava ao norte do rio Tyne (que deságua no mar na região metropolitana de Newcastle).Pela tradição oral, os reis de ambos descendiam de Wödin, deus germânico da guerra. Dele vieram Ænoc, Aloc, Angenwiti, Ingui, Esa, Eoppa, Ida (547-549), da dinastia berniciana. Igualmente dele vieram Wægdæg, Sigegar, Swefdæg, Sigegeat, Sæbaid, Sæfugul, Westerfalea, Wilgils, Uscfrea, Yffe, Ælla (558-?), da dinastia real deiriana.
Edwyn reinava na Deira e seu irmão Æthelfrith na Bernícia. Edwyn matou o irmão e obrigou Oswald, filho de Æthelfrith a fugir para o reino escocês da Dál Riada (no oeste da Escócia, onde é hoje a região de Glasgow) em 616, unificando os dois reinos. Sob a influência dos monges de Iona, Oswald foi batizado. Em 633 Edwyn foi morto em batalha contra os britânicos do País de Gales. A Northumbria, então, caiu em mãos dos galeses de Cadwallon, da Gwynedd (aliado do reino da Mércia, nas Midlands). Eles mataram o irmão mais velho de Oswald e então saíram à procura do próprio Oswald, para extinguir a dinastia real dos anglos.
Em 634, cruzaram o rio Tyne a leste de Hexham e encontraram os exércitos de Oswald em Heavenfield. As tropas de Oswald venceram e Cadwallon foi morto. A partir daí os britânicos nunca mais ameaçaram o norte. Uma placa indica o lugar da batalha, na via B6318, bem a leste de Chollerford. Oswald estabeleceu sua corte no castelo de Bebbanburgh (Bamburgh).
O rei casou com uma princesa de Wessex e exerceu uma espécie de protetorato sobre os reis de Lindsey e de Kent.
Em várias ocasiões Oswald teve de enfrentar os mercianos, ex-aliados de Cadwallon. Numa dessas escaramuças, os mercianos liderados por Penda atacaram os nortúmbrios em Maserfelth, em 642. Nessa batalha Oswald morreu. Ele foi considerado mártir e santificado. A cabeça dele foi conservada por Santo Aidán em Lindisfarne e mais tarde levada para Durham em 995, com os restos de São Cuthbert.
A abadia de Lindisfarne
Na ilha sagrada de Lindisfarne Lindisfarne, de Lindis (o nome de um arroio das proximidades) e fahren (local de retiro), há um vilarejo bem pequeno, mas que estava lotado de gente. Ali nasceu o cristianismo anglo-saxão do norte da Inglaterra quando, em 635, Santo Aidán, um monge irlandês que vivia na ilha de Iona, na Escócia, foi convocado pelo rei nortúmbrio Oswald e se tornou o primeiro bispo da Bernícia (no norte da Northumbria). O missionário fundou na ilha um mosteiro de palha. Essa construção certamente era de carvalho e recoberta de palha. Pequena, servia ao monge e a um ou dois noviços.
A ilha é ligada à "terra firme" por uma estrada asfaltada de cerca de um quilômetro de extensão, que fica submersa quando a maré está alta. Ao lado dela, corre uma trilha conhecida como Passarela dos Peregrinos. Como era frequente que peregrinos fossem surpreendidos pela enchente da maré, causando muitas mortes por afogamento, foram construídos ao longo da rota uns ninhos (quadriláteros de madeiras sustentados por um poste enfiado na areia), que servisse de refúgio até a baixa da maré.
A estrada para o vilarejo da ilha vai margeando uma praia que é coberta na maré cheia. A areia dessa praia é dura e úmida. Um musgo verde a cobre.
No mosteiro de Melrose (sul da Escócia) o abade Eata, discípulo de Santo Aidán, e seu prior Boisil tiveram como pupilo o jovem Cuthbert, anglo-saxão, nascido cerca de 633. Diz o biógrafo que Cuthbert estava apascentando suas ovelhas e rezando quando viu anjos levando a alma de Aidán para o céu. Depois disso, ele decidiu tomar a vida monástica. Essa informação é imprecisa, pois Aidán só morreu em 651, quando Cuthbert já era monge.
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Quando Eata foi elevado a bispo depois da morte de Aidán, Cuthbert foi como prior dele para Lindisfarne. Após alguns anos, ele resolveu se recolher à ilha Inner Farne, para viver entre pássaros e outros animais, em reclusão total.
Em 685 Eata foi nomeado bispo de Hexham e Cuthbert o sucedeu na cátedra de Bernícia, indicado pelo rei Ecfrith (sobrinho de Oswald). Foi consagrado em York em março daquele ano. O bispo morreu dois anos depois, em 687. O local se tornou centro de peregrinação, principalmente depois da notícia de que em 698 o corpo de São Cuthbert, morto 11 anos antes, fora encontrado inteiro. Quando do saque viquingue, seus restos foram levados para o interior e em 995 trasladados para Durham.
A fama da ilha atraiu gente importante. O rei Ceolwulf abdicou e foi se tornar monge em Lindisfarne em 737. Para lá se dirigiam criminosos e refugiados políticos buscando proteção. Em 756, Offa, infeliz pretendente ao trono, foi arrastado semi-morto por seus perseguidores e o bispo Cynewulf aprisionado em Bamburgh.
O patrocínio de reis e nobres levou à decadência dos costumes dos monges de Lindisfarne. E à sua crescente politização. Em fins do século VIII o mosteiro já não guardava a simplicidade e a pobreza das celas de Santo Aidán. Visitado pela nobreza e pela realeza, certamente tinha acomodações à altura de seus hóspedes e benfeitores. Pelo menos para os padrões locais e da época, principalmente porque os monges anglo-saxões estavam mais interessados em possuir artigos - livros, paramentos e bens litúrgicos - ricamente ornamentados a ter magníficos edifícios, que eram a paixão dos normandos, seus sucessores.
O mosteiro foi alvo do primeiro ataque de viquingues dinamarqueses em terras do Reino Unido em 793. Nesse ataque vários monges foram mortos e diversos noviços foram levados, alguns para serem vendidos como escravos, outros para serem afogados no mar. Ninguém na ilha soube me dizer como os viquingues sabiam direitinho onde atacar. Esse ataque repercutiu por toda a Europa, inclusive na corte do poderoso Carlos Magno.
Começava a era dos ataques relâmpagos dos viquingues pela Europa. Os monges levaram os corpos do rei Ceolwulf e de São Cuthbert com eles para vários lugares, acabando por depositar o santo em Durham, por volta de 995.
A vida monástica de Lindisfarne, contudo, não morreu. No século XII monges de Durham reestabeleceram uma comunidade religiosa na ilha, sob invocação de Santa Maria. São desse mosteiro as ruínas que hoje existem em Lindisfarne.
O Evangelho de Lindisfarne
De Lindisfarne provém o famoso Evangelho hoje exposto no British Museum de Londres. É um livro escrito sobre couro de bezerros pelo escriba Eadfrith, que se tornou bispo de Lindisfarne por volta de 698. Tem 258 páginas ilustradas e multicoloridas, com texto em latim.
No museu da abadia há alguns objetos dessa época, principalmente alguns pedaços de lápides tumulares esculpidas com figuras humanas e desenhos geométricos entrelaçados, exemplares da arte anglo-saxã.
A abadia entrou em declínio no século XIII, quando da invasão da Escócia por Edward I. A economia local estagnou e a abadia passou a ter dificuldades em se manter com os óbulos e rendas do aluguel de terras da Igreja. Até que em 1537 a Reforma fechou o mosteiro.
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O castelo de Lindisfarne
Outro edifício que sobreviveu foi o castelo de Lindisfarne.
O castelo é todo mobiliado e tem uma vista linda, mas seu ingresso é caro, mesmo para os padrões ingleses (3,80 libras por pessoa). Ele está sobre um morro alto, ou melhor, uma pedra enorme, a de Beblowe.
Foi construído no reinado de Henrique VIII, no século XVI, usando pedras do convento. Por dentro ele é arrumadinho, com mobílias típicas dos séculos passados. O chão é de pedras e tijolos (arranjados como espinhas de peixe). Do terraço do castelo se tem uma vista esplêndia da ilha e redondezas.
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O castelo de Lindisfarne tem em seu interior salas e salões com decoração relativamente modernas, vitorianas. Um dos cômodos é uma graciosa capela, com vitrais coloridos, como uma micro-catedral.
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